quarta-feira, 24 de junho de 2015

Melancolia

Gênero: Drama
Direção: Lars von Trier
Roteiro: Lars von Trier
Elenco: Alexander Skarsgård, Brady Corbet, Cameron Spurr, Charlotta Miller, Charlotte Gainsbourg, Charlotte Rampling, Christian Geisnæs, Claire Miller, Deborah Fronko, Gary Whitaker, James Cagnard, Jesper Christensen, John Hurt, Katrine Sahlstrøm, Kiefer Sutherland, Kirsten Dunst, Stellan Skarsgård, Udo Kier
Produção: Louise Vesth, Meta Louise Foldager
Fotografia: Manuel Alberto Claro
Duração: 136 min.
2011

Melancolia (do grego μελαγχολία - melagcholía; de μέλας - mélas, "negro" e χολή - cholé, "bílis") é um estado psíquico de depressão com ou sem causa específica. Caracteriza-se pela falta de entusiasmo e predisposição para atividades em geral.





Um filme sobre depressão. Descrição exata dos sintomas de forma tão chocante que esquecemos que esta doença existe. No filme, Lars Von Trier nomeia Melancolia a um planeta que se oculta atrás do sol e que estaria prestes a se chocar com a Terra.
Melancolia, filme tenso e confuso. No entanto, é justamente nos elementos colocados em confusas relações familiares, na primeira parte do filme, que os espectadores vão achando sentido no filme, na medida em que as tensões se identificam com quem assiste.

Filme com fotografia invejável, cansa propositalmente os expectador com imagens em câmera super lenta. Imagens que só farão sentido no final do filme. A trilha sonora simples, ainda que magnífica - Tristão e Isolda de Richard Wagner, faz-nos sentir um clima de desolação e absurdo. É o clima de todo o filme. Aliás, desolação e absurdo são os temas de Lars Von Trier.

Como muita gente já assistiu posso falar. O filme se divide em duas partes, Justine - Kirsten Dunst (atriz que eu adoro) e Claire - Charlotte Gainsbourg (atirz que passei a gostar depois de sua atuação em Ninfomaniáca). Na primeira parte, a personagem Justine é uma noiva doida, rebelde e inconformada, que não se contenta com uma suntuosa festa de casamento, nem com seu noivo que a ama. Visivelmente se nota o climão pesado, quando os noivos chegam da cerimônia de casamento pra um jantar de recepção, depois de duas horas presos numa curva em uma estrada de barro minúscula, pois a enorme limusine não permitia uma manobra adequada numa pista como aquela.

A primeira cena: Justine.
No jantar o caos se instala: uma mãe ranzinza, que publicamente admite não suportar casamentos, o pai bonachão relativamente fracassado profissionalmente, o patrão da noiva, publicitário que falava em lucros à noiva mesmo no dia do seu casamento. O clima pra Justine estava tão tedioso que ela foi levar o sobriho ao quarto e acabou dormindo em seu próprio casamento enquanto os convidados a esperava pra cortar o bolo! Um inferno astral. A noiva louca de pedra, ao ponto de transar com o rapazinho recém contratado pelo seu patrão. Enfim, a festa foi o próprio fim do casamento. 

A insatisfação de Justine estampada em sua cara já mostrava o fim do casamento ainda na festa. Insatisfação, tristeza profunda sem causa aparente, sono ou ausência deste em horas inesperadas, desejo de fuga. Sintomas que já diagnosticariam Justine como depressiva em estágio grave. Sua irmã Claire, o tempo todo conseguia acalmar a todos. O mundo se acabando e mulher cândida e tranquila. Claire se mostrava a torre forte pra o marido que reclamava dos custos da festa, pra mãe amarga e difícil de descer como cerveja Heinikem quente. A mulher era uma rocha. Esse é o melhor dos sintomas da depressão, tranquilidade inesperada na hora mais estressante possível. Sem contar com a paciência que tinha com a irmã mais nova, apesar dos picos de ira que se resumiam em: "tem horas que eu tenho ódio de você".

A segunda cena: Claire.
Nesta, os sintomas da melancolia se aprofundam em Justine, ao ponto de ficar perdida pela rua e precisar ser trazida pra morar com a irmã Claire. Esta começa a mostrar certa tensão e curiosidade em assuntos astronômicos. Isto porque o marido, astrônomo podre de rico (de onde tiraram a ideia de que pesquisadores enriquecem?) havia previsto a aproximação do planeta Melancolia da órbita da Terra e obviamente, não acreditava que este planeta não se chocaria com o nosso. Claire se mostrava o tempo todo apreensiva. No entanto, o fato de haver ou não um choque entre os planetas não abalava o desinteresse de Justine na vida. A presença de Justine é insuportável, mesmo assim Claire não se comporta como a irmã mais velha raivosa, trata sua irmã melancólica com todo carinho e paciência. Justine vai definhando, demonstrando insignificância em existir, na medida que Claire não se conforma com o tom consolador do marido pesquisador em astronomia a trata. Tenta a todo momento esconder a angústia expressa na sensação de explodir junto com o planeta.

Uma questão filosófica é colocada pelo autor neste filme: a vida é uma grande absurdo, acreditemos na longevidade da vida humana ou não, soframos bons e maus momentos na vida. Nada faz sentido. Em seus filmes essa é a temática. E fontes seguras afirmam que Lars Von Trier sofre de depressão, algo admitido por ele mesmo. Um pomposo casamento com um homem bem sucedido não foram suficientes pra trazer contentamento a Justine, muito pelo contrário, esta demonstrava profunda angústia, enquanto sua irmã consolava a todos.

O mundo estava prestes a explodir e Claire mesmo sem ter certeza disto se desesperava, mesmo sob o consolo do marido e a curiosidade do pequeno filho. O autor do filme com seu niilismo desacredita na humanidade ao ponto de achar que o choque da Terra com outro planeta não seria absurdo. Justine também não, tanto é que ela não se mostrava preocupa, inclusive consolou a irmã e o sobrinho enquanto a Terra esfarelava.

Melancolia, característica que realmente existe. Os gregos já caracterizavam sua existência, os medievais notificavam seus sintomas por sinais visíveis, o escurecimento da pele era o principal. Diferentemente do que eu pensava, a depressão parece ter origens remotas, parece não ser uma doença exclusiva da modernidade, do individualismo. Algo parecido com o que o profeta Elias sofreu ao ser ameaçado por Jezabel, mesmo após ter massacrado com os profetas de Baal no Monte Carmelo (1 Reis 18: 16-45; 19:1-18. 

Lars Von Trier trata de uma realidade, ainda que ele a superlativize em suas películas. Mas este é o recurso de quem se utiliza da arte. O choque do absurdo levanta questões, ainda que em tom de brincadeira. Mesmo assim um assunto verdadeiro é pautado. 

A vida é um absurdo. Não obstante, esperança deve sim ser a perspectiva humana que baseia suas realizações, ainda que absurdas. Pois a vida é até pra Wood Alem é um bom resultado de bons acasos (estranho isso, como o acaso pode trazer esperança?).
Por mais caótica que pareça ser a vida existe um sentido e por mais dura que ela seja e sem sentido realmente se processe na terra, cabe a nós darmos sentido. Deus está conosco no que há sentido e no que não há sentido. Mesmo a vida sendo absurda e é Deus é o senhor da história.




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