quarta-feira, 17 de junho de 2015

Corpo, comida e trabalho.

[...] uma reação ao ambiente feito pelo homem, com substâncias químicas ambientais de baixo nível em geral, como se as pessoas fossem alérgicas ao mundo e adoecessem devido à totalidade da civilização material. (Csordas 2013) [...] Os sofredores descrevem uma variedade de queixas em todos os sistemas corporais, embora “os sistemas neurológicos, respiratórios e gastrointestinais sejam comumente afetados” (Lipson apud Csordas 2013 p. 302).



As nossas formas de trabalho fazem com que movimentemos pouco nossos corpos. Com exceção das empregadas domésticas, pedreiros, garis e profissões consideradas pouco qualificadas. Temos movimentado pouco nossos corpos e quando o fazemos não desempenhamos atividades laborais de forma saudável. Desrespeitando períodos de descanso para o corpo, de lazer e cultura para a alma e o espírito. 

Tudo com a justificativa da maximização da produção material para os poucos detentores dos maiores resultados desta produção. Assim o cansaço, o stress e a culpa por senti-los envolve as sociedades ocidentais (e orientais ocidentalizadas). Temos orgulho de viver atarefados e atarefadas. Dizer que temos momentos de stress tem nos dado um ceto status.

Por outro lado, mas ainda pelo mesmo motivo, nossa forma alimentação tem nos super abastecido de proteínas, carboidratos e calorias que são incompatíveis com nossas atividades laborais. Em outras palavras, o que temos comido não tem sido aproveitado pelo nosso organismo por causa da sub utilização dos nossos corpos para atividades saudáveis. O resultado disso são os índices alarmantes de obesidade e de problemas causados pela má alimentação. Desta forma, o que tem nos restado são academias como forma de atividade física que, a cada dia se abarrotam de pessoas desesperadas por emagrecer ou engordar - seja pra manter os padrões midiáticos ou terrivelmente por motivos de saúde.

Da mesma forma o nosso lazer tem se resumido na manutenção de status, em detrimento do indivíduo enquanto ser completo, multidimensionado. Aqui também o corpo sofre, pois o espaço da rua, onde os indivíduos poderiam caminhar entre uma loja e uma lanchonete, entre um bar e uma banca de revistas está dramaticamente sendo abandonado. As atividades do espirito tem se resumido a atividades de observação e manipulação de meios mecânicos/eletrônicos: cinema, celular, shows, fast-foods, etc. 

As opções de lazer adequam as novas gerações às formas de trabalho que agora tecemos críticas. Mas o status tem servido como argumento motivador à inserção neste circuito.

Nesta encruzilhada de relações, o corpo é construído sob um espectro cruel e paradoxal: beleza, ostentação e harmonia de um  lado, e do outro, atividades que inviabilizam a saúde do indivíduo em todas as suas dimensões. Os meios de comunicação, as corporações, o Estado, o mercado de trabalho e tudo que padronizou as formas de identidade, nos exige "boa apresentação pessoal", resistência física e emocional a jornadas de trabalho, tratamentos abusivos nestes ambientes e ainda tecem um discurso de culpabilização pelo baixo desempenho na produtividade que exigem. 

Assim o corpo ao mesmo tempo que é idealizado é tido como organismo produtor paradoxos, alvo de controle contínuo. Um corpo que é alienado enquanto organismo vivo, reificado como alvo da indústria estética e como meio de adquirir riquezas.

Neste circuito, a medicalização é a principal forma de estranhamento dos nossos corpos. Desenvolvemos formas de alergia ao mundo enquanto organismo vivo e aceitamos a artificialidade industrial como padrão de vida. Isso na prática é o que nos torna mais doentes, de corpo, alma, e espírito.

No entanto, movimentos e ações ao redor do mundo tem se mobilizado e achado alternativas viáveis de reconciliação com os corpos e com o mundo enquanto organismo. As culturas em sua diversidade nos mostra isso. Basta uma boa conversa com nossos avós, um breve conhecimento de tradições indígena, ou uma visita mental às nossas infâncias. Veremos que as alternativas não estão tão distantes o quanto parecem. 

Em outros momentos por este veículo veremos tais alternativas. Mas devemos refletir como queremos viver nossos dias. Se deixaremos que nossos corpos vivam alergicamente no mundo que Deus criou para que vivamos. Se deixaremos que o mesmo sistema que depreda nossa saúde, seja o mesmo que nos cobre a custos exorbitantes, as soluções para os problemas que não causamos enquanto indivíduos.

Sigamos conversando. 

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