segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Fome ou sobrevivência

Uma coisa tem que ficar bem evidente aqui, já é quase automática a decisão diária de ao dar 17:30h me arrumar e dar aulas. É uma das poucas coisas que me faz não esquecer que tô vivo, que estou ligado a alguma coisa. O que faz parecer que uma vida vibrante é o que me move e que sou o mais sólido dos minerais. Que o compromisso com o trabalho e a paixão pelo saber e suas trocas revelam o tônus de toda minha vida; como se esta fosse a plena realização de paixões. Algo que parece esconder em algum lugar dentro de mim certa efusividade.

Mas secretamente, cotidianamente a questão do que é ser humano me tortura, me revolve por eu insistentemente não conseguir dormir, dias, semanas, meses. Uma solidão que apavora, um sentimento de despertencimento constante. Algo que é somado a constante falta de grana (outra coisa que nos faz questionar nossa própria humanidade), pois na maioria das oportunidades
 que aparecem pra estar com outras pessoas, se necessita de pelo menos ter o do deslocamento, ou pra ajudar na conta.

Confesso que já não tô suportando mais, não sei até onde aguento, por isso voltei aqui. Mesmo com altas titulações, sendo professor no ensino superior, algo que sempre sonhei, me deparei em uma situação em que todos os meses deste ano me vi com pelo menos uma das contas atrasada; no limite da falta do que comer, pedindo dinheiro emprestado todos os meses, sim todos os meses pois estava com a última refeição, a vergonha de parecer que está na minha testa que estou com fome. Sim, fome, a pior sensação que uma pessoa pode ter além da perda de um ente querido. E isso não é simplesmente pela falta de emprego ou propriamente de dinheiro, mas de me ver envolto em problemas financeiros característicos de uma estrutura captalista.

Tudo isto somado aos problemas familiares, na maioria das vezes por falta dos meus pais para redirecionar os ânimos dos meus irmãos, minha tia e dos meus ânimos. A falta de ter onde se ancorar, a sensação de descobrir a realidade de que no fundo estamos sós: eu, meu caráter e minhas disposições. Situações que me fazem sentir que nada mais tenho além da capacidade de contabilizar o desperdício que sou por existir, de depender por exemplo, da boa vontade de pessoas ricas nos pagar o que nos deve.

Diante de tudo isso e de muitas outras coisas acordo todos os dias perguntando a Deus porque acordei, conviver cotidianamente com a anedonia e a ansiedade que a fome traz. Torcer que pra ser convidado pra almoçar nos finais de semana. Assim vão passando os dias e as noites. Ficar tanto tempo sem dormir ao ponto de o corpo não mais suportar e dormir durante quatro horas, acordando cansado novamente. Viver contantemente irritado, esgotado emocionalmente, sentindo como se nada pudesse oferecer a ninguém. Viver sempre com vergonha, uma vontade constante de não mais existir.

Diante disso tudo, confesso que minha mente ainda ferve, todos os sentimentos bons, toda possibilidade transformadora, todo desejo de florescer onde eu vou, mas nada que consiga superar o cnasaço constante, nada que consiga driblar o desespero de não ter o que comer, de só ter uma refeiçao por dia, de permanecer mais tempo na cama, de tentar me manter dormecido por mais tempo possível pra esquecer a fome. De mais uma vez acordar e perguntar a Deus porque acordei.

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