A voz é
sorridente, apesar de não ser possível discernir se é uma
agradável sonolência, ou se é a doçura de ser que a faz escorrer
assim:límpida e transparente,como o espaço entre os peixes que o
translúcido do vidro nos faz a ver assim. Ou pela beleza que se
traduz em não simplesmente por ser erótica, mas por trazer alma,
parindo e aleitando alegria criança: menina crespa em beleza crua
que as outras mulheres maquia.
Mesmo que alguma
falta não a faça plena, o ser assim como é a faz completa. Ser
quem se é já basta, opiniões não a define, padrões nunca a
enquadra. Ela segue assim: única, despida do alheio, entregue a si
mesma. E assim ninguém a aprisiona. Ela escolhe o quê e quem ela
quer. Os sentimentos por serem dela a torna assimétrica ao resto do
mundo, pois a outras versões, as outras narrativas sobre ela sempre
são alheias; parece que nada que falam sobre essa preta a diz
respeito.
No entanto, mesmo
não sendo unívoca, o que a constitui me intriga. Mesmo sem saber
explicar, compreender, me intriga. Onde ela é, o que ela está, como
ela fica, pra quê ela faz. Só o que me resta é uma curiosidade que
me afronta, um desafio que me torna; o poder dela não me assombra,
pois a desnudez que me constitui sempre me arma, me evolui quando me
desarna. Admito que até desmamo quando quando descrevo, e enquanto a
descrevo não me surpreendo como ela me revela: ainda na capacidade
de ver coisas belas em aquários, caranguejos, criança,
beleza-nua-Luna, é a surpresa de, em mim se ver melhor.
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