sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Nudez que niguém aprisiona



A voz é sorridente, apesar de não ser possível discernir se é uma agradável sonolência, ou se é a doçura de ser que a faz escorrer assim:límpida e transparente,como o espaço entre os peixes que o translúcido do vidro nos faz a ver assim. Ou pela beleza que se traduz em não simplesmente por ser erótica, mas por trazer alma, parindo e aleitando alegria criança: menina crespa em beleza crua que as outras mulheres maquia.
Mesmo que alguma falta não a faça plena, o ser assim como é a faz completa. Ser quem se é já basta, opiniões não a define, padrões nunca a enquadra. Ela segue assim: única, despida do alheio, entregue a si mesma. E assim ninguém a aprisiona. Ela escolhe o quê e quem ela quer. Os sentimentos por serem dela a torna assimétrica ao resto do mundo, pois a outras versões, as outras narrativas sobre ela sempre são alheias; parece que nada que falam sobre essa preta a diz respeito.
No entanto, mesmo não sendo unívoca, o que a constitui me intriga. Mesmo sem saber explicar, compreender, me intriga. Onde ela é, o que ela está, como ela fica, pra quê ela faz. Só o que me resta é uma curiosidade que me afronta, um desafio que me torna; o poder dela não me assombra, pois a desnudez que me constitui sempre me arma, me evolui quando me desarna. Admito que até desmamo quando quando descrevo, e enquanto a descrevo não me surpreendo como ela me revela: ainda na capacidade de ver coisas belas em aquários, caranguejos, criança, beleza-nua-Luna, é a surpresa de, em mim se ver melhor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário